domingo, 23 de março de 2008

Todo mundo tem razão?

O texto abaixo fala sobre: Moral e Ética e seu possível caráter Universal.





TODO MUNDO TEM RAZÃO?



De um lado, há a idéia de que cada sociedade tem o direito de definir como quiser as regras que regem a vida dos indivíduos. De outro, a de que há uma ética universal que não pode ser violada
(revista Super – julho 2001 por Rodrigo Cavalcante)

No meio de uma conversa de bar, um amigo conta que acabou de voltar de um país do Oriente Médio onde as mulheres não podem expor o rosto nas ruas e as adúlteras são punidas com pedradas em praça pública. Na mesma linha de citações de "costumes exóticos", alguém diz que conhece uma aldeia indígena que obriga os meninos a passarem por um doloroso rito de passagem para a vida adulta: eles têm que colocar a mão numa cumbuca de palha cheia de formigas gigantes que picam suas peles até sangrar - uma prova de que suportam a dor e se tornaram homens. Outro amigo, médico, desata a falar mal da religião de um dos seus pacientes que é contra a transfusão de sangue em nome de uma pureza espiritual. A essa altura, o clima cordial da conversa muda e alguns ficam visivelmente agressivos no ataque a esses costumes.

Para complicar a situação, aparece alguém defendendo a tese de que o que parece absurdo e inevitável para nós pode ser perfeitamente normal para os outros: afinal, se os valores morais variam de povo para povo são diferentes e devem ser respeitados, quem somos nós para julgá-los?

Esse impasse quase sempre leva a duas reações. Ao longo da história, a mais comum tem sido impor os valores de uma cultura hegemônica, que se arvora superior, sobre outra. Na marra. O resultado você conhece: romanos perseguindo cristãos, cristãos tentando converter os índios, judeus perseguidos pelos nazistas, europeus colonizando a África. A segunda reação tem sido procurar uma resposta para uma pergunta espinhosa: apesar das evidentes diferenças de cultura e de comportamento entre os povos, há valores que todos os homens devem respeitar? De onde vem a nossa noção do que é certo e errado?

No plano pessoal, a resposta para essas perguntas faz toda a diferença na hora de ajudar ou não um amigo, ser leal ou infiel à namorada, demitir ou dar mais uma chance ao empregado. Até no descontraído futebol com os amigos, seus valores morais estão lá, ajudando-o a decidir se você deve ou não "retribuir" um pontapé desleal. No plano mundial, a existência ou não de uma ética universal define o que são os direitos humanos, como devem ser usadas as inovações científicas e até mesmo o que deve ser entendido como um crime de guerra.

Para alguns pesquisadores, os valores morais não caem do céu como supostamente aconteceu com os dez mandamentos. Eles são invenções humanas, estratégias da espécie para garantir sua sobrevivência. "O que chamamos de bondade e solidariedade não são inspirações divinas", diz o americano Edward O. Wilson, professor da Universidade de Harvard, especialista no estudo das origens biológicas do comportamento humano. Ele explica que se um dos nossos antepassados há milhares de anos decidisse abandonar seu grupo de caça para tentar a sorte sozinho, teria poucas chances de garantir o almoço. Com o tempo, uma série de tentativas e erros foi fazendo com que a vida social se tornasse um dos traços da espécie humana. "A necessidade de pertencer a um grupo e ser fiel a ele tornaram-se características do homem", diz Wilson. "Sabe aquela união que a gente sente quando estamos torcendo pela seleção na Copa do Mundo? Ela surgiu aí."

O problema é que esses mesmos laços que unem uma torcida também são usados para agredir a torcida adversária. "É o lado perverso dos valores humanos", diz Wilson. "A solidariedade dentro do grupo não vale para os grupos de fora." Cada grupo tenta impor seus valores como os melhores, resistindo a aceitar diferenças de cultura. Se as regras do futebol dão margem para tanta polêmica, imagine o que acontece quando se tenta criar regras de conduta para toda a humanidade. Leia mais



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